O auditório da Secretaria de Segurança Presidencial começava o dia quase vazio. As cadeiras marrons, dispostas em fileiras retas, ainda aguardavam o peso das histórias e das reivindicações que se anunciavam. Aos poucos, corpos chegavam, vozes se encontravam, e bandeiras invisíveis – mas carregadas de simbolismo – se estendiam no ar. O espaço, antes silencioso, tornava-se um mosaico de cores, expressões e sotaques. Uma pergunta ecoava, quebrando a aparente formalidade:
"Hoje, estamos produzindo participação efetiva da juventude brasileira?"
Foi seguida por outras: "O que a gente quer que seja a política de juventude daqui a 20 anos?" e "Estamos aqui para ser memória dos que não puderam estar aqui."
O som não vinha apenas das palavras, mas dos gritos de guerra que rasgavam o protocolo, lembrando que a juventude, ali, não era apenas tema de debate — era presença viva.
O Conselho Nacional de Juventude (Conjuve) celebrava, em 2025, os vinte anos da Política Nacional de Juventude. Mais que uma data, era um marco histórico que vinha acompanhado do desafio de concluir e validar o Plano Nacional de Juventude. Nas falas de abertura, Ronald Sorriso, Secretário Nacional de Juventude, apontava para a COP 30 como horizonte e para o protagonismo juvenil nas pautas socioambientais. Ao seu lado, Jessy Dayane, Nádia Garcia e Bruna Brelaz compunham a cena como vozes múltiplas de uma mesma causa.
Representando o Observatório Juventudes e Trabalho da UFS, fui chamada de forma inesperada. Não estava preparada para os sentimentos que me atravessariam. Entre a alegria e a emoção, senti-me novamente engajada, como se cada fala reacendesse um compromisso antigo. Vi, no rosto e na postura dos jovens presentes — negros, indígenas, estudantes, ativistas —, a expressão de uma luta que ultrapassa documentos e projetos: a luta pelo reconhecimento e pela sobrevivência de suas próprias narrativas.
Nos dias seguintes, a celebração se transformou em arena política e simbólica. No Dia Internacional da Juventude, o Ministro Márcio Macêdo falou sobre o encontro de gerações que ainda buscam escola gratuita, de qualidade, e a aprovação do Plano Nacional de Juventude. Ministérios se sucederam no palco: propostas de inclusão produtiva, combate ao racismo, sucessão rural, incentivo à participação feminina nas ciências e tecnologias. Cada fala parecia tecer um pedaço de um tecido coletivo, em que juventude e futuro eram fios entrelaçados por mãos diversas.
O terceiro dia trouxe o anúncio de um projeto ambicioso: o Observatório Nacional das Juventudes. A Secretária Adjunta Jessy Dayane expôs os desafios herdados — um apagão de dados na transição de governo — e o desejo de deixar um legado de evidências qualificadas. Ao lado de Guilherme Barbosa, Maynara Nafe e Alexandre Nogueira (Cebrap), construiu-se a ideia de um “hub” nacional, capaz de reunir, monitorar e articular informações vindas de todos os cantos do país.
Foi nesse momento que Sergipe entrou oficialmente na cena. Ao me apresentar como representante do Observatório Juventudes e Trabalho da UFS, expliquei que, em nosso estado, o Observatório atua agregando informações qualificadas sobre juventudes e trabalho, produzindo meios para a formulação de políticas públicas. Nosso foco está nas experiências e expectativas juvenis e nas condições enfrentadas pelas juventudes sergipanas em relação à ocupação, trabalho, uso do tempo livre renda e escolarização, buscando construir propostas que promovam autonomia econômica, social e política.
O Observatório também funciona por meio da capacitação de recursos humanos, mediador de diferentes instituições e provocador de ações efetivas para as demandas locais. Essa diversidade de funções se enraíza na experiência acumulada pelo Grupo de Estudos Culturais, Identidades e Relações Interétnicas - GERTS, que há anos investiga e promove debates sobre temas ligados à juventude, sob a coordenação do Prof. Nilton Marcon.
Em seguida, abriram palavra à plenária, com alguns questionamentos ao Observatório Nacional, sobre como os jovens terão acesso aos dados e de que forma a estrutura chegará aos estados. A coordenadora explicou que o momento é de escuta ativa, com a meta de transformar o Observatório em política de Estado por meio de instrumentos legais.
Elida Braga